sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Simplicidade – libertando-se da obsessão pelo ter


Temos compartilhado desta série nos cultos à noite. Não é muito difícil para mim e você percebermos que somos esmagados pelo ter, como se o ter fosse mais importante que o ser. É visível a corrida louca das pessoas por bens matérias, por acúmulos. Em toda essa corrida nos perdermos e passamos a valorizar muito mais as coisas do que as pessoas e pior, Deus muitas vezes se torna somente o facilitador do processo e não aquele a quem devemos toda a nossa adoração. Muitas vezes esquecemos que o centro de todas as coisas é Deus e que tudo depende dele e tudo provêm de suas mãos. Devemos portanto depender dele radicalmente. Ninguém possui existência independente nem capacidade de auto-sustentação. Tudo o que somos possuímos é por derivação. Para eu e você não sermos engolidos pela obsessão do ter, precisamos trilhar o caminho da simplicidade, pois a simplicidade é um retorno da dependência radical de Deus. Como crianças, passamos a viver no espírito da verdade. Tudo o que temos são dádivas do Criador.

Mas não basta, para vivermos em simplicidade, sabermos que somos totalmente dependentes de Deus, é preciso mais um pouco: Obediência radical. Um bom exemplo de alguém que se dispôs a isso foi Abraão. Intimado a oferecer em sacrifício seu tesouro mais precioso – seu filho Isaque, Abraão não vacilou, simplesmente obedeceu. Sem plano “B” ou clausulas de exceção: “e se...” ou “mas...”. Essa santa obediência é que constrói o canal por onde flui a vida de simplicidade.

A obediência radical só é possível quando Deus conta com nossa total submissão. Os 10 mandamentos começa com uma ordem simples: “Não terás outros deuses diante de mim” e em seguida apresenta mais três advertências contra a idolatria. A idolatria, naturalmente, consiste na intenção de dedicar a algo ou alguém uma submissão maior que a Deus. “Não!” grita-nos o decálogo: O Deus único e verdadeiro deve estar no centro de nossa devoção.

Nos dias de hoje precisamos reaprender que somente Deus é merecedor de nossa adoração e obediência. A idolatria aos bens materiais é desenfreada. O desejo de obter sempre mais é o que orienta nossas decisões. Observe como o quarto mandamento – a respeito do dia de descanso – atinge em cheio essa compulsão pela prosperidade. Fica difícil parar e descansar quando o trabalho nos permite ultrapassar os outros. Não existe hoje maior necessidade que a liberdade de poder lançar ao chão o pesado fardo pelo lucro.

O décimo mandamento é a proibição da cobiça. No âmago desse pecado está a luxúria do possuir. Obviamente, não há nada de errado em possuir bens. A ânsia descontrolada, a compulsão e o desejo sem limites é que são condenados. A cobiça é idolatria porque consiste na adoração das coisas materiais, mas – e aqui reside a dificuldade – todos nós acreditamos que temos total controle sobre nossos desejos. Ninguém admite estar dominado pelo espírito da cobiça. O problema é que todos nós, a exemplo dos alcoólicos, somos incapazes de reconhecer a doença depois que somos dominados por ela. Somente a ajuda externa poderá detectar o espírito que pretendeu estar acima de Deus em nosso coração. Temos motivo para nos preocupar com esse estado idolátrico de cobiça porque, se os bens temporais tem prioridade em nossa vida, a obediência radical torna-se impossível e o caminho para a liberdade da obsessão pelo ter, fica mais difícil ainda.

Simplicidade. É preciso aprender com Jesus que sendo rico se fez pobre por amor de cada um de nós e soube valorizar, mais do que todos, uma vida profundamente centrada em Deus e no outro. Que Deus nos abençoe.

Rev. Renato Rocha

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ficha limpa



“Quando os honestos (os justos) governam, o povo se alegra; mas, quando os maus dominam, o povo reclama”. (Pv 29:2)`

 
Mensalão, caixas dois, esquemas de compra de resultados nos tribunais, sonegação fiscal, falsidade ideológica, peculato (subtração ou desvio, por abuso de confiança, de dinheiro público), formação de quadrilha, improbidade (desonestidade) administrativa, corrupção ativa, apropriação indébita, crime de responsabilidade, corrupção ativa, declaração falsa do IR, etc. Todos esses termos fazem parte dos noticiários dos jornais sobre alguns políticos de nosso país e infelizmente tem contribuído em muito para que o Brasil seja conhecido como um “País corrupto”. Recentemente foi sancionada pelo presidente da República a chamada “Lei da Ficha limpa” que visa punir candidatos que ‘doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição’. A lei é uma ação punitiva à criminosos políticos ou suspeitos, ela visa impedir que políticos nessas situações atuem ou participem de eleições.
 
Quando observo situações como essa em nosso país fico a me perguntar: “O que está acontecendo com as pessoas que nos representam?” Ganham muito bem. Muitos deles têm curso superior. Muitos deles são empresários, vem de boas famílias e moram em excelentes casas. São pessoas populares e assumem cargos de extrema importância para a nação. Mas o que acontece na vida desses para que se deixem corromper? É vergonhoso, não só para os políticos, mas para todos, ser honesto? Algumas respostas podem ser dadas à princípio:
 
1. A integridade hoje tem sido substituída pela “aparência”. Infelizmente é triste notar mas as pessoas medem umas as outras não pelo que são, como se comportam, em que acreditam, mas se “estão bem na fita”. É bom dizer que integridade tem a ver com o coração, com a intimidade, com os escuros de nossa alma que só o Eterno que sabe.
 
2. O dinheiro, a popularidade e o sucesso tem se tornado um deus para as pessoas. Quando trocamos Deus por “outro” deus a auto-promoção, o benefício pessoal, a luxúria e o desejo desenfreado por “mais, mais e mais” é uma excelente proposta para a vida. As pessoas ficam desesperadas por lucro, por posições, por fama achando que isso é a sua tábua de salvação e por isso se iludem vindo a crer que a vida de uma pessoa consiste na abundância de bens que possui.
 
3. A economia de mercado baseada no consumo e uma nova irrupção do sagrado que faz transpirar “espiritualidade” tem moldado o mundo. Por um lado temos a economia de mercado que se encarrega de nos cercar por todos os lados com a mensagem da necessidade de consumo insaciável e por outro lado a teologia da prosperidade que se encarrega de revestir essa obsessão de consumo com uma roupagem espiritual.
 
Diante de tudo isso fica a pergunta: “È possível viver num país em que não se tenha necessidade de uma lei para tratar os “fichas sujas”? Seria somente os políticos os acusados de “ficha suja?”. Como sempre, a Bíblia nos trás o padrão para essa situação. Basta olharmos para a vida de homens como Daniel e José. Os dois faziam parte do alto escalão do governo, assumindo altas posições, tendo que tomar decisões que afetava diretamente a vida de muitas pessoas, tendo que lidar com os aspectos econômicos, sociais, políticos e religiosos de uma nação. Quando olhamos mais de perto a vida desses homens é nítido a integridade, o caráter cristão, a transparência e principalmente a fidelidade desses homens primeiramente a Deus. Daniel, por exemplo, não abriu mão da sua vida de oração, da sua postura cristã, de buscar ouvir a voz de Deus primeiramente não se deixando contaminar. José, por outro lado, não se corrompeu, não fez conchavos com ninguém para se livrar da prisão, não deu telefonemas escondidos e nem pagou propina aos guardas mas compreendeu que Deus é soberano sobre tudo e que nele podia confiar e descansar. A ficha de Daniel e José estava limpa primeiramente diante de Deus. Era a Deus que primeiramente que queriam agradar e viver integralmente.
 
O que faz com que homens como Daniel e José, extremamente envolvidos na política do país, assumindo altos cargos públicos, sujeitos a várias propostas indecentes não se corrompam ou não se vendam? - sua fidelidade a Deus, seu temor a Deus.
 
Finalizando, para que a nossa nação não mais exiba ficha de candidatos “ficha suja” é preciso, não somente votarmos consciente e responsavelmente mas, a começar de nós, vivermos também diante de Deus com nossa ficha limpa. Daniel e José são exemplos de caráter na vida, nos negócios, no trabalho, na política para todos nós e não só políticos.

 

Violação de Sigilo

“Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido.” Mt 10:26

Eu e você estamos assistindo mais um caso triste em nosso país. O vazamento de informações fiscais do vice-presidente executivo do PSDB e de mais algumas pessoas que ocupam cargos importantes em nosso país. De acordo com a OAB esse fato é um muito grave pois fere o chamado princípio constitucional do sigilo (O sigilo fiscal é a proteção às informações prestadas pelos contribuintes ao Fisco, assegurado pelos direitos fundamentais protegidos constitucionalmente, conforme dispõe a Constituição Federal de 1988), essencial à segurança do próprio Estado Democrático de direito. Crimes como esse quando não apurados e punidos, afirma a OAB, afetam a credibilidade do Estado brasileiro no que diz respeito ao cumprimento da Constituição e dos tratados internacionais.

De fato, o sigilo, seja fiscal, bancário, íntimo, da vida privada é um direto inviolável que os cidadãos brasileiros possuem, que em outras palavras é o direito que temos de não sermos obrigados a deixar nossa intimidade, nossa vida privada e nossas contas expostas, que é essencial para a segurança seja do Estado, seja da pessoa. Mas, e quanto aos sigilos do nosso coração, são eles também invioláveis? Seria seguro para mim e você guardarmos “certos” segredos no nosso coração?

• Quando Adão e Eva desobedeceram a Deus e fizeram para si folhas de figueira, acharam que podiam viver em “sigilo” diante de Deus, mas a pergunta que Deus faz: “Onde estás” põe para fora o segredo que tentaram ocultar.

• Quando Caim, após matar o seu irmão Abel é confrontado por Deus com a pergunta: “Onde está Abel teu irmão”, mostra claramente que havia “segredo” em seu coração: “Por acaso sou eu tutor do meu irmão?”

• Quando os irmãos de José o venderam a uma caravana de ismaelitas e depois foram falar a Jacó seu pai que ele estava morto, guardaram “sigilo” sobre o que realmente haviam feito;

• Quando Davi pecou contra Deus adulterando com Bate-Seba e depois matando seu Urias, achou que podia viver em “sigilo” diante das pessoas e não diante de Deus: “Passado o luto, Davi mandou buscá-la e a trouxe para o palácio; tornou-se ela sua mulher e lhe deu à luz um filho. Porém isto que Davi fizera foi mal aos olhos do SENHOR.” 1 Sm 11.27

De fato, a Bíblia nos ensina que Diante do criador não temos sigilos, segredos, contas invioláveis, coisas que falamos que não fizemos mas que realmente fizemos: “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.” Hb 4.13. Quero te dizer meu amigo que até mesmo as nossas faltas que a nós estão ocultas, Deus as conhece (Sl 19.12). O próprio Senhor Jesus desvendou, por várias vezes os segredos dos corações daqueles que não compartilhavam da visão do Reino de Deus: “Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas?”(Mt 22.18).

Queridos, o que Deus quer de cada um de nós é que estejamos diante dele, não com “segredos”, não com o coração cheio de pecado, de maldade, de malícia, de ódio mas que confessemos a Ele: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” Pv 28.13.

Minha oração é que Deus nos confronte com a sua graça e amor para que estejamos com a “ficha limpa” diante dEle e diante dos homens. Que Ele nos sonde e prove os nossos pensamentos para verificar se há em nós algum caminho mau e nos guiar para o caminho Eterno. (Sl 139.23, 24)

Rev. Renato Rocha